Chovia muito La fora, uma chuva fria, quase como se deus estivesse chorando o luto de seus filhos, um por um, quase dava para sentir a tristeza em cada gota que caia dos céus, era como se ela entrasse na alma e a umedecesse inteira e sentisse um certo prazer com essa tristeza santa, um vento frio acompanhava uma lagrima que escorria nos corpos, que deixava tudo com um toque especial. Logo assim, o vento começava brincava com os seus cabelos, como se estivesse os acariciando, como se fosse uma mão materna querendo tirar as lagrimas de seu rosto, pois essa melancolia só deveria ser sentida por quem as derramou e não por quem as fez derramar.
Não existia culpa, apenas o silêncio, nada mais. O que seria melhor do que não ouvir gritos, suspiros, risadas, choros, pensamentos, apenas o nada. Apenas observar a chuva caindo sobre o chão, sobre os meus ombros, saber que a única respiração, o único sentimento naquele momento, era o meu e ele era puro. Pois ele sentia o sabor do prazer, o gosto de lagrimas, aquele salgado de amargura, incessante, em meu corpo, em meus lábios, por todo o lugar.
O cheiro, o odor que aquele momento tinha era memorável, chegavam a me trazer lembranças de tempos passados. Tempos em que diversão era questão de pensamentos, questão de gosto, de tempo. O cheiro da juventude, o perfume, a fragrância do passado, do que deixou de existir e nunca mais voltara a ser o que já foi um dia.
Época que minhas ferramentas eram meu corpo, meus movimentos, eram de pura classe, era pura arte. Existia um significado, em sentir aquele ultimo suspiro, o ultimo olhar, quando tudo se esvaziava do casulo e se tornava livre para voar na brisa que hoje acariciam o meu rosto com aquele mesmo sentimento materno de piedade.
Estou aqui neste banho de choro e melancolia em paz, me afogando em lagrimas que para sempre estarão dentro de minha alma como um parasita com a foice de um ceifador e um capuz de um executor, o crime que cometi foi ter deixado o tempo passar do mesmo jeito que fiz com minha honra.
Partir com dignidade é uma sorte de poucos, escolhidos por assim dizer, na vida respeitada ou temida, na morte lembrada porem odiados, pois o esquecimento seria pior do que o próprio inferno, o arder nas chamas eternas me parece pouco comparado com a dor de ver o nome, o rosto, a vida, caindo no abismo do esquecimento eterno.
Não se trata de ambição... E sim de glória.